A África instou a abandonar o dólar americano e buscar a independência monetária

A África está na encruzilhada da inovação econômica e das práticas tradicionais, enfrentando uma necessidade urgente de reavaliar sua dependência do dólar americano.

O Presidente do Quénia, William Ruto, destaca-se com uma proposta ambiciosa para redefinir a forma como o continente conduz o seu comércio – uma proposta que coloca o futuro económico de África firmemente nas suas mãos.

Ruto propõe um sistema pan-africano de pagamento e liquidação

A visão de Ruto centra-se no Sistema Pan-Africano de Pagamentos e Liquidações (PAPSS), uma iniciativa financeira nascida em Janeiro de 2022 pelo African Export-Import Bank (Afreximbank) e pelo Secretariado da Área de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA).

Com forte apoio da União Africana e dos bancos centrais, este sistema representa uma abordagem inovadora para facilitar o comércio dentro do continente.

Num fórum da AfCFTA em Nairobi, Ruto fez um apelo sincero aos outros líderes africanos, apelando aos bancos comerciais e centrais de todo o continente para participarem activamente no PAPSS.

O novo sistema, sugeriu ele, poderia ajudar a enfrentar os desafios inerentes à liquidação de pagamentos internacionais em diferentes moedas, uma área em que o domínio do dólar não foi contestado.

“Não precisamos procurar dólares; os nossos empresários vão concentrar-se na movimentação de bens e serviços e deixar a árdua tarefa das divisas para o Afreximbank”, exortou Ruto.

O impacto da dependência do dólar nas economias africanas

A predominância do dólar americano no comércio africano sempre exigiu a dependência de bancos correspondentes, localizados predominantemente nos Estados Unidos e na Europa, para facilitar os pagamentos entre as nações.

As transações em dólares geralmente envolvem custos substanciais em todas as etapas do processo e um período de espera de até cinco dias para que os pagamentos cheguem aos bancos destinatários.

A proposta de Ruto oferece uma alternativa que eliminaria a necessidade de facilitação de terceiros, com o Afreximbank intervindo para lidar com questões cambiais, permitindo que as empresas se concentrem em suas operações principais.

Além disso, a escassez de dólares norte-americanos tem levado a uma inflação artificial do valor da moeda, impactando negativamente os negócios. A Associação de Fabricantes do Quênia enfatizou que a crise do dólar do ano passado prejudicou as relações com os fornecedores devido ao aumento da demanda e às persistentes restrições da cadeia de suprimentos.

Além disso, a alta demanda por dólares americanos em um contexto de alta inflação colocou a moeda queniana sob forte pressão. Essa desvalorização da moeda levou a custos inflacionados para as principais importações, como combustível e matérias-primas, pressionando ainda mais a economia.

Levando a África à auto-suficiência econômica

A postura de Ruto sobre a independência monetária reflete uma narrativa mais ampla da África assumindo o controle de seu próprio destino econômico. Ao propor a utilização do mecanismo disponibilizado pelo Afreximbank, defende um ambiente em que o continente não fique "refém" de nenhuma moeda única.

Esse afastamento da dependência do dólar pode anunciar uma nova era de autossuficiência para a África, promovendo um ecossistema comercial mais sustentável e estável, livre da volatilidade externa.

Ao concluir seu discurso em Nairóbi, Ruto enfatizou a necessidade de o continente enfrentar o "problema do dólar" de frente.

Insistiu na urgência da implementação de um sistema como o PAPSS, que autoriza o continente a fazer valer o controlo das suas transacções financeiras e a caminhar para um futuro marcado pela soberania económica.

Isso é mais do que uma proposta econômica; é um apelo à ação para a África afirmar a sua independência financeira e redefinir o seu futuro. Se for bem-sucedida, esta iniciativa poderá remodelar o cenário comercial africano, preparando o terreno para uma nova era de fortalecimento econômico e prosperidade para o continente.