O jogo monetário da Ásia: defesa inovadora das reservas pelos bancos centrais

À medida que as ansiedades globais se intensificam relativamente à continuação das taxas de juro nos EUA e ao aumento das tensões globais, os bancos centrais asiáticos estão a conceber estratégias revolucionárias para proteger as suas moedas.

O desafio surge do facto de as taxas directoras asiáticas serem geralmente mais baixas do que as dos seus homólogos emergentes, resultando numa disparidade maior com os Estados Unidos.

Adapte-se às pressões globais

A Índia, sentindo a mudança das marés, planeia emitir mais obrigações para absorver o excesso de liquidez, na esperança de fortalecer a rupia. Da mesma forma, a Indonésia introduziu um novo mecanismo de dívida no mês passado para atrair fluxos e apoiar a sua moeda.

A China, não querendo ficar para trás, está a promover um volume colossal de dívida soberana em moeda local no estrangeiro para amplificar a procura pelo yuan.

Em comparação, ao avaliar as taxas diretoras, muitos países asiáticos, como a Índia, a Malásia, a Coreia do Sul e a Indonésia, mostram uma diferença notável nas taxas em relação aos Estados Unidos, sublinhando a pressão que enfrentam.

Por outro lado, países como Hungria, Colômbia e México conseguiram manter um spread positivo. Contudo, esta não é apenas uma simples corrida por retornos mais elevados.

Eddie Cheung, do Credit Agricole CIB em Hong Kong, salienta que, ao oferecer obrigações de elevado rendimento, países como a Índia e a Indonésia podem fortalecer as suas moedas sem esgotar as reservas cambiais. É uma jogada astuta e, talvez, um ponto de viragem neste jogo de xadrez económico de alto risco.

Navegando no atoleiro monetário

Não se pode discutir mudanças cambiais sem reconhecer a posição do dólar. Dados recentes indicam que o índice do dólar subiu mais de 6% desde julho.

Por que? Os comerciantes estão a antecipar uma subida nas taxas federais e os indicadores económicos robustos dos EUA não estão a fazer nada para diminuir este sentimento.

Se somarmos a isto os motins na Ucrânia e os conflitos entre Israel e o Hamas, o preço do petróleo atinge novos níveis, fortalecendo ainda mais a atractividade do dólar.

As perspectivas monetárias da Ásia não são apenas uma preocupação regional; tem ramificações globais. O peso combinado do yuan, da rupia e da rupia representa impressionantes 45% do índice MSCI EM Currency.

Além disso, as ofertas combinadas de títulos de gigantes como a China e a Índia representam impressionantes 22,2% do Índice de Obrigações Governamentais do JPMorgan – Mercados Emergentes.

Estratégias que importam

A abordagem proativa da Índia para estabilizar a rupia é digna de nota. Revelações recentes sugerem um possível declínio nas suas reservas cambiais no início deste ano, sublinhando a sua posição agressiva.

Juntamente com uma iniciativa de venda de obrigações para eliminar o excesso de liquidez, os resultados são claros: a rupia manteve-se firme nesta tempestade financeira.

A Indonésia também arregaçou as mangas. No mês passado, começaram a dispersar títulos em rúpias do Banco Indonésia, visando um influxo de entradas estrangeiras.

Estes títulos, conhecidos coloquialmente como SRBI, oferecem aos investidores globais a capacidade de se envolverem em empreendimentos de risco cambial de curto prazo. Uma medida oportuna, tendo em conta o êxodo de 1,1 mil milhões de dólares das obrigações indonésias nos últimos tempos.

Mas não vamos fugir aos esforços rigorosos da China. O recente anúncio do governo de uma grande emissão de obrigações soberanas denominadas em yuan indica o seu compromisso de apoiar o yuan.

Além disso, as recentes intervenções do Banco Popular da China no mercado offshore do yuan apenas amplificam a sua abordagem determinada. No entanto, todo lado positivo tem uma nuvem. Para a China, o aumento das taxas à vista está a tornar a cobertura mais difícil para os detentores de obrigações.

Contudo, numa perspectiva global, embora estas abordagens imaginativas não eliminem completamente a necessidade de reservas cambiais, diminuem substancialmente a dependência destas.

A maioria dos bancos centrais dos mercados emergentes apresenta um rácio de cobertura de importações muito acima do valor de referência convencional de três meses, garantindo uma ampla cobertura de importações através de reservas externas.

Consenso entre especialistas? A adequação das reservas em toda a Ásia não levanta sinais de alarme. Poderão existir algumas disparidades entre países, mas no geral elas excedem largamente os padrões recomendados.